terça-feira, 4 de dezembro de 2012


Campeonato de Pontos Corridos

Desde que me entendo por gente, o futebol é a grande paixão de todo brasileiro. Os meninos quando nascem ganham uma bola e o sonho de todos eles é virar um profissional bem sucedido, jogar na Europa, ganhar milhares de euros, carrões, festas, status, enfim, ser um jogador conhecido mundialmente.
            Tudo começa aqui no Brasil. Os campeonatos regionais, as peneiras, os testes, emoções, decepções, sonhos jogados fora. Poucos seguem adiante, muitos desistem no meio do caminho. Os que seguem, são colocados à prova todo instante e a probabilidade de um deles ser conhecido mundialmente é igual ganhar na mega sena, um em cinqüenta milhões.
            O que faz os olhos de um menino brilhar são os jogos de campeonato. Casa cheia e torcida inflamada, músicas cantadas a plenos pulmões, xingamentos, a alegria do gol, o grito do “passou perto”. Final de campeonato, todos tensos, será que vamos ganhar? Noventa minutos, melhor cento e oitenta, jogos de ida e volta, o popular mata-mata. Oportunidade daquele time inverossímil virar campeão no decorrer do certame.
            Essa magia da final está sendo roubada dos meninos. O famigerado campeonato de pontos corridos ganhou força entre os dirigentes e é a atual fórmula do campeonato brasileiro de futebol. Há quase dez anos nos foi imposto esse modelo europeu de disputa que só não é mais sem graça por que dá algumas vagas para a Libertadores da América, esse sim com oitavas, quartas, semifinal e final.
            Concordo que ponto corrido premia o melhor, pois enaltece aquele que mais teve regularidade durante todo o ano. Mas isso não é tudo. Quantos melhores que existem que não são conhecidos? Quanta gente ruim que faz sucesso? Tal campeonato dá margem para pilantragem (times fazendo corpo mole para prejudicar o rival), manipulação de resultados, desinteresse de torcidas quando seu time não tem mais chance de nada e a falta do comovente mata-mata.
            Acho que será difícil a CBF mudar esse sistema. Eles gostam muito, pois aqui no Brasil damos muito valor para os segundos colocados. Quem foi o vice-campeão do ano passado? Que emocionante foi o título do Fluminense este ano. Só falta eles mudarem a contagem dos minutos no segundo tempo: começar com quarenta e cinco e terminar em noventa.
            Somos os únicos penta-campeões mundiais do futebol. Temos o melhor jogador de todos os tempos, somos fabricantes e exportadores de craques, não temos que copiar ninguém, pelo contrário, o mundo deveria nos copiar. Sinto saudades do mata-mata. Será que o brasileirão não voltará a ser como era? Talvez um dia sim, em que todos os brasileiros cansarem desse modelo e verem que bom mesmo e emocionante é uma final de campeonato.