sábado, 14 de novembro de 2009

A Estudante e o Muro

Duas notícias chamaram bastante a atenção nesse começo do mês de novembro e foram muito repercutidas em todos os noticiários televisivos, impressos e virtuais do mundo todo: a estudante do vestido curto e os vinte anos da queda do muro de Berlim.
Comecemos pela moça que frequentava as aulas de turismo da Universidade Bandeirante, em São Bernardo do Campo, grande São Paulo, usando uma peça de roupa, que segundo a grande maioria dos alunos da instituição, era inadequado para os padrões universitários. Não tenho nada contra as mulheres muito menos contra as roupas que elas usam. É um direito de cada uma vestir-se como querem, exceto em ocasiões já definidas que não há como fugir. Um ambiente judicial, uma entrevista de emprego, uma missa, um velório, enfim, esses locais merecem um respeito mínimo às ordens e normas já regidas.
Não é o caso de uma universidade. Sabe-se que nesses locais, na maioria das vezes, as pessoas são jovens, cheias de saúde, sedentas por aprendizado, instintos a flor da pele. É época de namoro, festas, churrascos, viagens, a necessidade de serem aceitas na sociedade, uma época de afirmação e revolução. Muitas vezes de lá se fazem casamentos e amizades eternas. Depois de formados, os alunos sentem a saudade de um tempo que infelizmente nunca mais volta.
Nada justifica a humilhação pela qual a moça foi submetida perante os puritanos. Chegou-se ao ponto de acionar a polícia para que ela fosse retirada com sgurança do prédio da instituição. As cenas gravadas pelos celulares dos discentes e espalhadas pela internet nos remetem a um tempo de preconceito e racismo. Vivemos em uma democracia, as pessoas podem protestar, gritar a plenos pulmões, achar o que é certo e o que é errado, mas sem infringir a integridade física e moral de uma pessoa. Expor uma pessoa ao ridículo e a humilhação principalmente na frente de outras não se faz. Os anos de chumbo da nossa recente história brasileira, graças a Deus, acabaram.
Se eles se sentiram tão ofendidos ou invidiados que reclamassem com a direção da faculdade. Deixassem que os responsáveis pela ordem do ensino tomassem as devidas providências. O mundo dá voltas, os mesmos que atiraram a pedra contra o vestido curto terão filhos e netos, e eles provavelmente farão cursos superiores, frequentarão os ambientes escolares dos pais e avós, e o futuro sempre será uma incógnita. O que não queremos para nós não fazemos para os outros. Esse famoso ditado popular se junta sempre com outro excepcional: só o tempo vai nos dizer.
Por falar em tempo, na última segunda-feira fez vinte anos que caiu o muro de Berlim. Símbolo máximo da extinta Guerra Fria, ele repartia Berlim em dois lados: a parte ocidental e a parte oriental. Por vinte e oito anos e com 155 quilômetros de comprimento dividiu o mundo entre capitalistas e socialistas. Os Estados Unidos e a extinta URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) que foram aliadas na Segunda Guerra Mundial se inimistaram dando início a um conflito político-ideológico entre os dois países pela hegemonia mundial.
Na conferência de Potsdam (cidade alemã) realizada em 1945, depois da derrota nazista de Hitler, os aliados (EUA, URSS, Grã-Bretanha e França) decidem dividir a Alemanha e também a cidade de Berlim em quatro partes. Cada quinhão ficou sob o controle de uma potência. Devido a discordâncias sobre a reconstrução alemã e a criação de uma nova moeda para o país, o ditador soviético Joseph Stalin determina o bloqueio a Berlim ocidental impedindo a entrada de alimentos e materiais a Berlim Oriental. Começava então a chamada Cortina de ferro, divisão imaginária da Europa entre os dois blocos de poder.
Alguns anos depois foram criadas a República Federal da Alemanha (RFA) sob o controle dos aliados e também a República Democrática da Alemanha (RDA) do lado oriental. Com o advento do Plano Marshall foi inevitável a fuga maciça de pessoas do lado oriental para o ocidental. Somado a isso a desconfiança de contrabando e espionagem, o governo comunista alemão decide estabelecer um regime rígido de demarcação da fronteira entre os dois países. Inicialmente foram construídas cercas de arame farpado e, em 1961, as barricadas do muro começam a dar espaço para o concreto.
A tensão mundial aumentava na medida em que a Guerra Fria colocava em risco a segurança do planeta. Temia-se uma Terceira Guerra Mundial. OTAN, Pacto de Varsóvia, Guerra da Coréia, Guerra do Vietnã, Crise dos Mísseis, corrida espacial, tudo contribuía para que a bipolarização mundial ganhasse mais força. Até no Brasil foram sentidos os resquícios dela. É claro que esse não foi o único motivo, mas ajudou: Jânio Quadros condecorou Che Guevara e também flertava com a Cuba de Fidel Castro, o único país americano socialista.Os militares contrários ao comunismo tomaram o poder em 1964 no Governo de João Goulart temendo uma possível revolução socialista no país.
Pelo mundo o socialismo também foi perdendo poder. Ronald Reagan em frente ao portão de Brandemburgo, em seu célebre discurso, em 1989, pede que Gorbachev derrube o muro. A Polônia comunista elegeu o candidato esquerdista e operário, Lech Walesa; na Tchecoslováquia a Primavera de Praga foi repreendida ferozmente; em 1985, fato considerado por muitos historiadores, e eu concordo com eles, como o princípio do fim do comunismo, Mikhail Gorbachev assumiu a presidência da URSS vindo a lançar a Perestroika (reestruturação econômica) e a Glasnost (abertura política).
Fronteiras da Rússia e dos países satélites do Leste Europeu foram abertas; a liberdade política dos cidadãos foi ampliada; o processo de abertura política deu à população novas liberdades em relação aos meios de comunicação. A população se arma de martelos e marretas, mas não para briga, e sim para começar a enterrar a Guerra Fria.
Em 09 de novembro de 1989, após 28 anos de vida, o muro é derrubado pelos cidadãos do mundo. Sem derramamento de sangue, a revolução foi pacífica como tudo deveria ter sido depois da Segunda Guerra. A bipolarização acabou. Hoje blocos econômicos se juntam para se fortalecerem geopoliticamente e comercialmente. As ameaças mudaram. O inimigo agora é o fundamentalismo islâmico. O mundo realmente necessita não viver em paz.

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