O
Preço das Coisas
Recentemente um texto publicado no site da revista Forbes, escrito pelo
jornalista americano Kenneth Rapoza, está causando um pequeno zum, zum, zum
entre os brasileiros. O jornalista alega que pagamos muito caro, aqui no
Brasil, pelos carros da marca Chrysler, em especial o Jeep Grand Cherokee. Diz
que nos Estados Unidos tais veículos são utilizados por pessoas de classe média
baixa e que no Brasil são carros única e exclusivamente usados por “bacanas”. Não
gosto de concordar com algo que venha da terra do Tio Sam, mas infelizmente o
repórter está cheio de razão. Kenneth cita também que um Ford Durango, recém
lançado nos EUA, custa US$57.000 e que um professor do Bronx devido ao seu
poder médio aquisitivo pode comprar um. Se não for zero, pelo menos semi-novo,
com dois anos de uso. Já no mercado
brasileiro o mesmo modelo custará temíveis US$95.000. Não preciso dizer que um
professor brasileiro teria capacidade de comprá-lo. É uma baita diferença. O
jornalista vitupera os consumidores que supostamente adquirem esse tipo de
carro em busca de status. No fundo ele quer dizer que os brasileiros confundem
preços altos com qualidade. Será?
Sabemos que a colossal carga
tributária brasileira é a grande responsável pelos preços das coisas em geral,
mas que muitos empresários, fábricas, lojas e outros departamentos aproveitam
disso para elevarem o valor das mercadorias. Temos as margens de lucro mais
altas do mundo, os financiamentos com as taxas elevadamente exorbitantes, o
charme do carro importado, o charme do zero quilômetro e consumidores ricos, deslumbrados
e dispostos a gastar toda essa dinheirama. A perfeita combinação para o preço
das coisas. Há quem diga que o problema dos veículos é o cartel das montadoras,
outros afirmam que o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica),
autarquia vinculada ao Ministério da Justiça, que tem como objetivo orientar, fiscalizar, prevenir e apurar
abusos do poder econômico não trabalha em defesa da concorrência. Já
ouvi especialistas dizerem que o simples fato de as montadoras terem suas
próprias financeiras faz com que elas ajam também como atravessadoras aumentando
seus lucros. Seja o que for, realmente pagamos muito pelos produtos e não só
nos veículos. Os altos impostos também fazem com que os produtos nacionais
percam mercados no exterior.
Somos tributados em qualquer
coisa quem compramos ou usamos. No transporte público, no médico, nos remédios,
no pão francês, na televisão, nos combustíveis, no imóvel, no que pensar, o
tributo está lá embutido refletindo a total falta de transparência do Estado
para com o contribuinte. Os impostos brasileiros chegam ao incrível patamar de
corresponder a 35% do PIB. Os programas de transferência de renda,
bolsa-família, bolsa-escola, cedidos aos mais pobres nada mais é do que repor
parcialmente o que o Estado arrebata do nosso bolso. É certo que a população
brasileira de um modo geral aumentou seu poder de compra desde o advento do
Plano Real, mas ainda existem pessoas na extrema pobreza. Somos um país de
contrastes. Os verdadeiros herois da nação são aqueles que acordam de
madrugada, pegam ônibus, andam a pé, fazem o país andar e ganham R$622,00 por
mês. Já dizia o ditado: em terra de cego quem tem olho é rei. Se tem alguém
disposto a pagar por um produto caro que pague. Se existem produtos caros é
porque tem alguém que compra, porque caso contrário eles seriam bem mais
baratos.
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