terça-feira, 3 de julho de 2012


Dá um Tempo, Zé

Certa vez, na República do Ouro de Tolo, vivia um homem chamado Zé. Zé cresceu com seus oito irmãos na miséria e sua casa não tinha água encanada, sanitários nem energia elétrica, vivia na mais completa falta de oportunidade. Quando maior, Zé decidiu sair de sua aldeola e tentar a vida na cidade grande como a maioria de seus amigos fazia. Pegou o “pau-de-arara” e dias depois chegou na terra prometida. Estudou por conta do Governo e tirou o segundo grau com uma profissão muito vantajosa para ele. Casou-se, teve filhos, trabalhou, sofreu um pequeno acidente de trabalho e perdeu um dedo da mão.
As coisas não eram fáceis na época. Os patrões sugavam os trabalhadores, as condições de trabalho eram péssimas e o salário mal dava pra pagar o armazém da esquina. Foi aí que Zé teve uma grande idéia. Os políticos eram arrogantes, ricos, cheios de pompa, corruptos, ladrões e o que mais se pensasse. Zé decidiu montar um partido político. Como era bom de lábia, logo convenceu outras pessoas a lutar contra o que ele chamava de sistema corrompido. Montou um partido de oposição como gostava de frisar.
A idéia da organização social espontânea era de esculachar com quem estivesse no poder sempre buscando o apoio da classe trabalhadora. Os “picaretas com anel de doutor”, como a corja gostava de chamar os políticos, eram duramente castigados e logo seriam derrotados nas urnas. Comícios, panfletos, megafones viraram moda na pele do Zé e de seu número crescente de companheiros. Eles eram contra tudo e sempre a favor dos trabalhadores. Se mostravam como novos messias que ajudariam os pobres sair da miséria.
Quando o partido político estava consolidado e com muitos companheiros, Zé decidiu se lançar na política e foi alçado ao cargo de deputado federal. Anos depois se candidatou a Presidente da República do Ouro de Tolo e depois de quatro disputas venceu e tornou-se o primeiro Chefe de Estado de origem humilde. Criticado por nunca ter tido um diploma, chorou quando recebeu o de Presidente.
No poder Zé se esbaldou. Pegou o país estabilizado, deixado pelo seu antecessor, e só teve o trabalho de manter a ordem. Viajou, falou, se mostrou, confundiu, enganou, fez pirraça, se fez de desentendido, viajou, falou, se mostrou, enfim. Começou a ter atitudes estranhas, tudo aquilo que Zé abominava na época da fundação do partido agora defendia com unhas e dentes. Atitudes inimagináveis da época agora eram repetidas por Zé e por seus companheiros, alguns claro, porque os mais radicais o abandonaram logo depois que a farra começou .
Mesmo assim Zé foi reeleito, elegeu depois seu sucessor e tinha tudo para sumir do mapa com a aprovação recorde que teve da população. Entraria pra história como um político nobre que acabou com a pobreza no país. Mas como Zé era azombado, começou a palpitar em tudo que fosse possível. Pior ainda, Zé começou a se aliar aos “picaretas com anel de doutor” em troca de favores políticos. Aqueles que ele esculhambava quando montaram o partido viraram seus amigos de uma hora pra outra. Zé não mede conseqüências e só quer o poder.
Zé acha todos os seus atos normais e faz questão de demonstrá-los à população. Seus antigos e fiéis companheiros já questionam suas atitudes. Uma das grandes virtudes de um homem é saber parar na hora certa. Ele fez o possível e o impossível para escrever seu nome na galeria dos melhores e conseguiu. Mas sua quipã maldita o desgasta e as pessoas já não têm mais aquele encanto por ele. Some um pouco Zé. Vai viajar, curtir a família, deixe seus companheiros seguirem sozinhos. Fica no seu canto só administrando e usando de sua experiência quando solicitado. Enfim, pra quem o encontrar na rua grite em alto e bom som: dá um tempo, Zé! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário