Dá
um Tempo, Zé
Certa vez, na República
do Ouro de Tolo, vivia um homem chamado Zé. Zé cresceu com seus oito irmãos na
miséria e sua casa não tinha água encanada, sanitários nem energia elétrica,
vivia na mais completa falta de oportunidade. Quando maior, Zé decidiu sair de
sua aldeola e tentar a vida na cidade grande como a maioria de seus amigos
fazia. Pegou o “pau-de-arara” e dias depois chegou na terra prometida. Estudou
por conta do Governo e tirou o segundo grau com uma profissão muito vantajosa
para ele. Casou-se, teve filhos, trabalhou, sofreu um pequeno acidente de
trabalho e perdeu um dedo da mão.
As coisas não eram
fáceis na época. Os patrões sugavam os trabalhadores, as condições de trabalho
eram péssimas e o salário mal dava pra pagar o armazém da esquina. Foi aí que
Zé teve uma grande idéia. Os políticos eram arrogantes, ricos, cheios de pompa,
corruptos, ladrões e o que mais se pensasse. Zé decidiu montar um partido
político. Como era bom de lábia, logo convenceu outras pessoas a lutar contra o
que ele chamava de sistema corrompido. Montou um partido de oposição como gostava
de frisar.
A idéia da organização
social espontânea era de esculachar com quem estivesse no poder sempre buscando
o apoio da classe trabalhadora. Os “picaretas com anel de doutor”, como a corja
gostava de chamar os políticos, eram duramente castigados e logo seriam
derrotados nas urnas. Comícios, panfletos, megafones viraram moda na pele do Zé
e de seu número crescente de companheiros. Eles eram contra tudo e sempre a
favor dos trabalhadores. Se mostravam como novos messias que ajudariam os
pobres sair da miséria.
Quando o partido
político estava consolidado e com muitos companheiros, Zé decidiu se lançar na
política e foi alçado ao cargo de deputado federal. Anos depois se candidatou a
Presidente da República do Ouro de Tolo e depois de quatro disputas venceu e tornou-se
o primeiro Chefe de Estado de origem humilde. Criticado por nunca ter tido um
diploma, chorou quando recebeu o de Presidente.
No poder Zé se
esbaldou. Pegou o país estabilizado, deixado pelo seu antecessor, e só teve o
trabalho de manter a ordem. Viajou, falou, se mostrou, confundiu, enganou, fez
pirraça, se fez de desentendido, viajou, falou, se mostrou, enfim. Começou a
ter atitudes estranhas, tudo aquilo que Zé abominava na época da fundação do partido
agora defendia com unhas e dentes. Atitudes inimagináveis da época agora eram
repetidas por Zé e por seus companheiros, alguns claro, porque os mais radicais
o abandonaram logo depois que a farra começou .
Mesmo assim Zé foi reeleito,
elegeu depois seu sucessor e tinha tudo para sumir do mapa com a aprovação
recorde que teve da população. Entraria pra história como um político nobre que
acabou com a pobreza no país. Mas como Zé era azombado, começou a palpitar em
tudo que fosse possível. Pior ainda, Zé começou a se aliar aos “picaretas com
anel de doutor” em troca de favores políticos. Aqueles que ele esculhambava quando
montaram o partido viraram seus amigos de uma hora pra outra. Zé não mede conseqüências
e só quer o poder.
Zé acha todos os seus
atos normais e faz questão de demonstrá-los à população. Seus antigos e fiéis companheiros
já questionam suas atitudes. Uma das grandes virtudes de um homem é saber parar
na hora certa. Ele fez o possível e o impossível para escrever seu nome na
galeria dos melhores e conseguiu. Mas sua quipã maldita o desgasta e as pessoas
já não têm mais aquele encanto por ele. Some um pouco Zé. Vai viajar, curtir a família,
deixe seus companheiros seguirem sozinhos. Fica no seu canto só administrando e
usando de sua experiência quando solicitado. Enfim, pra quem o encontrar na rua
grite em alto e bom som: dá um tempo, Zé!
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